domingo, 4 de dezembro de 2011

Dança do Ventre - sabendo o que estudar para prever onde se quer chegar com a Dança


Devido à gama de possibilidades que a INTERNET oferece, há muito material disponível nos sites de vídeos, blogs e redes sociais.
No entanto, há uma questão que deve ser alvo de reflexão: como selecionar material para estudo e orientar nossos estudos em Dança Oriental e como estudar esse material?
Não é tão simples quanto parece.
Primeiro você precisa ter em mente o que você quer com sua dança.
Você pode fazer a dança por mero passatempo, hobby e portanto deixar nas mãos de sua professora/coreógrafa decidir o estilo que vai seguir.  Ou, você prefere não estar ligada a um grupo e estudar sozinha, definindo o que você quer para sua dança.
Em ambas as hipóteses, você vai se deparar com vários caminhos.
E é sobre estas possibilidades que trata esse post.
O propósito deste post é falar sobre as minhas escolhas de estudo pessoal e do grupo que eu coordeno, e como cheguei até estas escolhas e como descartei outras opções ao longo de quase 20 anos de estudo das Danças Árabes. Realmente  não tem como estudar coisas opostas -ou você opta por uma Dança Árabe com interpretação Oriental ou opta por uma Dança Árabe com interpretação Ocidental.
Primeiro passo, que eu considero fundamental a toda pessoa que pretende estudar esta Arte com seriedade: saber de onde viemos para definir para onde vamos.
Trata-se de conhecer as raízes, as origens da Dança e da Música Árabe.
Ou seja, conhecer e estudar as principais dançarinas da Era Dourada (décadas de 50, 60 e 70) bem como os Músicos desta mesma Era. Sem esse primeiro passo bem solidificado - um estudo sério e detalhado de movimentos e musicalidade - você fica refém de modismos.
Não tem como estudar a Dança Árabe sem estudar a Música Árabe com suas características fundamentais porque uma está intrincicamente ligada a outra. Senão, corremos o risco de ler e interpretar a música oriental como ocidentais (o que tem acontecido muitíssimo em nosso País).
Conhecer a música árabe, sua estrutura (melodia, ritmo, percussão) e como interpretar cada elemento. Conhecer os instrumentos árabes e como podemos traduzir em termos de movimento, cada som, dentro de um estilo egípcio. Eis o primeiro passo.
É bem diferente do Jazz, por exemplo, onde você estuda os movimentos sequenciados e depois joga na música, na Dança Árabe isso torna-se um desastre.

Mas, voltando a falar da Dança Egípcia,  por onde começar?
Primeiramente , recomendo a obra destes quatro nomes, que pra mim, são os pilares de estudo de toda dançarina oriental que se preza:

1) Mohamed Abdel Wahab
2) Farid El Atrash
3) Abdel Halim Hafez
4) Om Kalthoum


Costumo dizer sempre em sala de aula: a música árabe é perfeita, ela é completa. As peças clássicas trazem exatamente tudo o que uma dançarina precisa. Basta saber ouví-las e interpretá-las dignamente.Ela diz para a dançarina o que ela deve fazer. Por que então nem todas fazem? Será que o ouvido ocidental não consegue ouvir além do ritmo? Ou será que estão tão preocupadas com as sequências prontas que esquecem que a música deve ser a base para sua performance?

Um músico que produziu uma série de cd´s "Best Of" destes grandes nomes, é Hossam Ramzy, com arranjos perfeitos para serem interpretados pela dançarina - eu recomendo e utilizo em minhas aulas.

Com relação a vídeos de Dança no You Tube, não tem erro se você seguir o mapa das dançarinas da Era Dourada. Procure por:

1) Samia Gamal
2) Nagwa Fouad
3) Soheir Zaki
4) Mona El Said
5) Aza Sharif
6) Taheya Karioka
7) Naima Akef
8) Nádia Gamal
9) Fifi Abdo

Agora vem a questão fundamental: como estudar este material?
Não basta assistir superficialmente. É preciso assistir e analisar como elas executavam os movimentos, como interpretavam e sentiam a música e , sobretudo, como faziam a leitura musical, ou seja, de que maneira elas demonstravam cada momento da música em seus movimentos- melodia, ritmo, percussão.
Porque há muitas pessoas que eu ouço falar: "Ah, eu estudo as dançarinas da Golden Age."
Mas não vejo nada destas bailarinas em sua dança. Então eu pergunto: como ela estuda? Será que estuda mesmo ou somente passa o olho pra desencargo de consciência?

Apesar da maioria dos vídeos serem antigos, muitos em preto e branco, é um material que contém a essência da Dança Árabe e deve ser assistido inúmeras vezes.


Dentro desta abordagem tradicional, há muito conteúdo a ser analisado.
Além de aprender a ouvir a música oriental, dentro de suas especificidades, a aluna vai ter que compreender o movimento, seu corpo a partir dessa cultura. E não adaptar essa cultura à sua expressão corporal ocidental. Eis um grande desafio. Há que se fazer um trabalho de dissociação das partes do corpo e consciência corporal pois sem um controle da musculatura dissociada, fica mais difícil expressar as sutis nuances da musicalidade oriental.









Esta é a maneira que eu estudo e conduzo as aulas, as coreografias e estudos no meu Núcleo Cultural. É muito importante deixar bem claro para a aluna que inicia seus estudos comigo para que ela não se sinta "enganada", pra que ela saiba qual abordagem, sabendo quais as referências de estudo que serão suas para desenvolver um estudo no Núcleo.


PAZ Profunda!
Yasmine Amar































quinta-feira, 30 de junho de 2011

Momento de chegar, momento de estar, momento de partir...

Na Dança como na Vida, é fato, é bíblico que há momento pra tudo.
O melhor momento é quando adentramos nos ensinamentos da Dança Oriental pelas mãos de nossa mestra (ou mestre). Que dia feliz! Eu diria até , inesquecível, pois assim foi para mim.
Nestes quase 20 anos de Dança, posso dizer que vivenciei de tudo um pouco no que diz respeito aos momentos de chegada e de partida ou permanência de alunas em minhas aulas e grupo.
Tenho uma aluna que é tão antiga, mas tão antiga, que eu falo que é quase um casamento, pois desde que me entendo ensinando ela está ao meu lado!
Mas tenho muitas alunas que deixaram muitas saudades, que de vez em quando aparecem pra fazer uma visitinha, e estiveram por longos anos ao meu lado e foram tão sábias na arte do nobre fechamento que deixaram um perfume de saudades no ar.
Outras, no entanto, não conseguirarm sair, romper o cordão umbilical com a mestra sem destruir o que de mais belo existia: respeito e admiração mútuos.  Isso acontece muitas vezes inconscientemente pela dificuldade da pessoa em lidar com os cortes. São pessoas que encerraram um ciclo de aprendizado com aquele mestre mas não conseguem desapegar e então, inconscientemente começam a "boicotar" essa relação, com atitudes e palavras, muitas vezes sem perceber este mecanismo.
A sabedoria milenar do Tao fala sobre a arte do nobre fechamento.
Convida todas vocês a refletir sobre essa sabedoria do tao quando fala da importância de sabermos identificar quando devemos ficar, sair ou voltar de determinado relacionamento, em especial, quando é o momento de escolhermos ficar ao lado de nosso mestre ou partir pra longe dele para seguirmos nossa jornada na individualidade.

"A mulher do Tao vive de perto a Natureza. Suas ações fluem do coração. Em palavras, são verdadeiras. Em decisões, são justas. Nas escolhas, têm noção do tempo." (TAO,8-1)

Devemos caminhar pela vida como viajantes e olhar as pessoas assim pois o que destrói a beleza da vida é o apego excessivo e desnecessário. E como é difícil esse exercício que o TAO nos convida.

Então o convite é para que todas nós, na Dança e na vida, possamos nos permitir sermos viajantes, sermos honestas consigo mesmas - e esse é um convite do TAO - e procurarmos sempre largar o velho antes de trilharmos o novo pois assim seremos nobres viajantes a praticar a arte do nobre fechamento em nossas vidas e levar sempre as mais belas recordações conosco!


muita PAZ


Yasmine Amar

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dança do Jarro

Folclore -Dança do Jarro


A Dança do Jarro é um folclore egícpcio que retrata o cotidiano das mulheres buscando água com seus jarros. Por ser um retrato do cotidiano, deve demonstrar leveza e espontaneidade.

Alguns passo típicos podem ser observados no vídeo acima.
É fundamental a bailarina executar o movimento desenhando infinitos no ar com o jarro, apoiar o jarro no ombro, na cabeça, segurando com uma mão. Abaixar como se estivesse pegando água no rio.

O ritmo é o felahi assim como o traje.




terça-feira, 25 de janeiro de 2011

MUWASHSHAHAT RAQISAH- by Farida Fahmy


MUWASHSHAHAT RAQISAH
(publicado por Farida Fahmy, Mestre em Etnologia UCLA Dance - Agosto de 2009- 
Traduzido por Yasmine Amar)

Muwashshahat Raqisah é uma suíte de danças coreografadas por Mahmoud Reda e Farida Fahmy,  em uma produção feita para televisão egípcia por Ali Reda, irmão de Mahmoud Reda.

Shahat Muwash é o plural do nome Muwashah, uma forma poética que inclui música e vocalização. É um gênero musical sofisticado que se originou na Espanha muçulmana durante o século décimo. É descrito como um poema estrófico com repetidas retorna rondo-como um refrão musical. O nome muwashshah  é uma referência ao Wishah que as mulheres usavam na Andaluzia. A canção estrófica do muwashshah expressa diretamente os próprios pensamentos e sentimentos do poeta. As letras falam de amor, alegria e tristeza. 

Em 1492, quase meio milhão de árabes foram expulsos da Península Ibérica. Eles migraram para o Norte de África, levando as suas tradições culturais com eles. Músicos e cantores levaram com eles sua herança musical,instrumentos e gêneros musicais diferentes que incluiu milhares de muwashshahat.

Hoje, a forma clássica da muwashshah permanece popular em Marrocos, Tunísia, bem como na Síria e no Líbano. Ele continuou a prevalecer no Egito até os primeiros anos do século 20. A tradição musical do muwashshah foi transmitida oralmente de uma geração de cantores para o outro. Em meados do século 20 os historiadores e amantes da música dedicaram muitos anos de trabalho duro num processo de resgate de documentação  do que restou dessa tradição musical.
  
O Muwashshahat Reda

Em 1979, Ali Reda foi convidado para passar uma noite musical na casa de Hammada Madkour. Lá, ele ouviu pela primeira vez, o talentoso Fouad Abdel Magid, compositor não profissional que escreveu a letra, compôs e cantou Muwashshahat.  Ali Reda ficou tão impressionado e rapidamente decidiu colaborar com Fouad Abdel Magid para montar uma produção na qual o Grupo Reda iria interpretar a sua música.

A Música de Abdel Magid Foad

Fouad Abdel Magid aderiu à forma, à estrutura e ao estilo lírico da tradição andaluza. Seu repertório incluiu um grande número de peças musicais variadas. Em sua orquestração, foram misturados os instrumentos ocidentais e egípcios, tornando uma versão moderna e elegante, que manteve a essência e as características próprias das peças Abdel Magdid. 
    

Coreografia de Mahmoud Reda

Ao contrário do compositor musical e arranjador, Mahmoud Reda não tinha ponto de referência a partir do qual  coreografar. Não havia  nenhuma referência  disponível do modo como eles dançavam. Foi a primeira vez que o muwashshah foi apresentado como um espetáculo de dança.  Em suas coreografias, Mahmoud Reda confiou na sua imaginação artística e na inspiração pela música, assim como sua experiência e seu rico repertório  de movimento que ele tinha acumulado por muitos anos. 

A forma musical do gênero com seus variados padrões rítmicos e qualidade estrófica influenciou a  escolha de combinações de movimentos e projetos espaciais, dando-lhe uma nova base  para se expressar. Ele, mais uma vez, inventou um novo gênero de dança que englobava elegância, bom gosto e movimentos fluidos que foram uma inovação para seu grande repertório de gêneros e estilos.
 

    



Referências
al-Faruqi, Lois Ibsen 1983 "A Tradição da Andaluzia" em O Gênio da civilização árabe: Fontes do Renascimento. 
(Cambridge, MA: MIT Press)
Racy, Ali Jihad 1983 "Music", em A Genious da civilização árabe: Fontes do Renascimento. 
(Cambridge, MA: MIT Press)

Al Helou, Selim 1965 "Al-Muwashshhat Andaluussia-AL: Origem e Evoltion 
(Beyrouth Librarie Al-Hayat)