domingo, 8 de agosto de 2010

Texto narrado por Lulu Sabongi em seu vídeo - A Arte da Dança do Ventre

Dando sequência aos materiais poéticos dentro da didática da Dança do Ventre, eis um texto e um poema   belíssimos!

Esse material  faz parte  do primeiro vídeo didático lançado pela professora e bailarina Lulu Sabongi, no início da década de 90, no Brasil. No vídeo, podemos ouvir estas palavras que resolvi digitar por acreditar que devem ser relembradas sempre, na voz da própria Lulu. Todas que estudam a Dança deveriam ter este material para ouvir, mostrar pras alunas, manter a conexão como o feminino arquetípico.



A Arte da Dança do Ventre

O ventre é o símbolo da matriz original, da mãe. Assim como a caverna, a imagem do ventre inspira proteção e calor materno. É no ventre que se assentam os órgãos das funções gástricas que produzem a digestão dos alimentos e, por esta localização, ele é comparado ao laboratório alquímico. Os alquimistas diziam que é preciso alimentar o filho filosófico do ventre de sua mãe. O calor do ventre facilita as transformações mas é preciso que tenha para cada um, e a cada momento de sua evolução, o grau e a intensidade adequados.

A presença do ventre na Dança pode ser notada através dos séculos na Arte, na Literatura e na Mitologia, nas esculturas e em pinturas de cavernas pré-históricas, o testemunho mútuo da existência da importância do ventre no Mundo Antigo.

Em diversos locais do Mundo e principalmente no Círculo Mediterrâneo são encontradas manifestações perpetuadas pela Arte que demonstram a importância do movimento da região ventral e da região pélvica nas danças que cultuavam a fertilidade.


...Um som agudo cinge e circula pela sala.
Com gestos impetuosos, ela sai de sua imobilidade
e repentinamente todo o seu corpo treme acompanhando a música.
Suas mãos estão levantadas tangindo os snujs e ela suavemente gira sob si mesma
fazendo de sua perna direita o pivô, convulsionando maravilhosamente
todos os músculos de seu corpo.
Após ela completar o círculo, ela pára e avança suavemente.
Todos os seus músculos tremem em compasso com a música em sólido e substancial espasmo.
Ela movia uma perna após a outra, como fazem as ciganas em suas danças,
tornando o movimento voluptuoso.
Parando inesperadamente, ela mantinha toda a sua musculatura em movimento.
Caindo sobre seus joelhos, ela contorcia o seu corpo, braços e cabeça girando
acima do chão, ainda com gestos que tangiam os snujs.
Da mesma maneira, isto era profundamente dramático,uma poesia lírica que
palavras não podem descrever: profundo, oriental, extenso e terrível.

(Descrição do jornalista americano Kurts, séc XIX, durante uma viagem de 15 milhas pelo Rio Nilo)

Durante muito tempo e principalmente nos últimos 150 anos, a conceituação da Dança do Ventre sofreu uma metamorfose. Ligada aos espetáculos de variedades, ela quase se desvinculou de seu caráter sagrado.
De origem múltipla, desde a orla do mediterrâneo até os pontos mais extremos do Oriente Médio, aos limites da Índia, a Dança do Ventre surgiu vinculada sempre aos atributos femininos de sedução, fertilidade e espiritualidade. Ela já estava presente nos antigos rituais egípcios e como toda dança ela tem o sentido maior da celebração.

A Dança do Ventre é realmente a celebração da vida.

Nós dançamos como que para afirmar a vida.
Por muito tempo, o binômioforça e vida foi celebrado assim, respeitando os ciclos naturais, especialmente a chegada da Primavera e o renascer das forças da Natureza. Desta forma venerada, em todas as suas manifestações, vegetal, animal, imagens cósmicas do sol e da lua, o binômio força e vida trnasformou-se em Mito, criados assim para explicar os fenômenos naturais.

Devido sua origem desconhecida, a Dança do Ventre que conhecemos hoje provém de um passado remoto e foi possivelmente transmitida por povos nômades que margeavam o Norte da África e os confins da Ásia, ciganos que levavam sua cultura atravésdassuas necessidades de manutenção.

Em cada região que paravam para comercializar suas produções, quer animal ou artesanal, sempre acabavam agregando à sua cultura algum elemento local e também la deixavam, bem denunciada, a sua passagem. É por isso que muitas danças, de diversas regiões do Oriente, com nomes específicos, são muito semelhantes à Dança do Ventre que conhecemos hoje. Na Grécia, ela é conhecida como chiftitelly,   no Egito raqs sharqī(رقص شرقي

O mundo ocidental também teve as suas "danças do ventre" mas infelizmente isso hoje é uma tradição perdida por culpa da religiosidade católica e sua excessiva observância sobre a lacívia do corpo em movimento.

Podemos concluir que , com a explosão da Dança do Ventre na atualidade, a mulher traz de volta a figura do feminino erótico que durante muito tempo ficou soterrado pela incapacidade masculina em lidar com o mundo integrado também pelo amor e não apenas pelo excesso de poder.

O quadril é a força motriz da Dança do Ventre. E é nessa região onde nascem os movimentos e para onde eles retornam.  (Lulu Sabongi)


E pra finalizar, um detalhe dotexto da contra capa do video...tudo perfeito, até nos detalhes:


Dança do Ventre – O Resgate do Feminino Arquetípico




Segundo Carl Gustav Jung, um dos nossos deveres primordiais é reconciliar o civilizado e o primitivo que existem em nós e redescobrir esta intensidade de viver, desaparecida, que ainda é encontrada nos rituais e nos festivais de Dança e de Música.

A tradição da Dança Árabe que aceita o corpo qualquer que seja sua forma e aceita a afirmação da sensualidade da mulher, qualquer que seja a sua idade, permite à mulher revalorizar a imagem que tem de si mesma.

“Nós dançamos como que para afirmar a vida. E como base de toda dança tem o sentido maior da celebração, a Dança do Ventre é realmente a celebração da vida.”

(texto extraído da contra capa do vídeo didático de Lulu Sabongi – A Arte da Dança do Ventre)

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