sábado, 2 de janeiro de 2016

Arte Orientalista, inspiração para Dançar e Coreografar


          Além do estudo da música, nós, coreógrafas orientais, recorremos ao estudo da Arte Orientalista. "Orientalismo na Arte é a retratação de elementos, descrição ou imitação no que se refere a Cultural Oriental." Lembrando que entendemos por Cultural Oriental todo legado dos países do Médio Oriente inclusive norte da África e Turquia pois há um forte intercâmbio cultural entre eles.
          Através da apreciação da pintura, podemos notar detalhes de postura, expressão, além da construção dos figurinos, dos personagens das coreografias, etc
          Gosto de pensar, ao observar uma dessas mulheres retratadas, que música combinaria com a cena, com o figurino. Como seria sua personalidade. Que tipo de peça coreográfica combinaria com esta mulher. Como poderia retratá-la. Enfim, é uma maneira de entrar em contato com uma época onde a dança era muito orgânica. desde que comecei a me interessar por esse estudo, a construção coreográfica num todo mudou, a começar pelos figurinos. Antigamente eu adquiria meus figurinos em ateliers. Hoje, eu mesma construo. Cada tecido, cada detalhe. sempre me inspiro nestas retratações. Não vemos trajes de duas peças (cinturão/bustiê). Vemos muita sobreposição de tecidos, muita renda, sedas. Calças fofas (que chamamos de "harém"),lenços soltos amarrados colares de pérolas...

William Clark Wontner
Inglaterra (1857-1930)
Safie - One of The Three







Selecionei algumas imagens que gosto muito. Vou tecer alguns comentários sobre estas imagens. No entanto, cada vez que apreciamos uma obra de arte, vemos detalhes e elemento novos. Também depende da música que estamos ouvindo, do estado de de espírito, do  momento... é tudo efêmero!   O ideal é realmente apreciar sem pressa. Como quem saboreia um vinho muito bom. Devagar e despertando os sentidos. Vale ressaltar que é uma leitura amadora em reação as Artes Plásticas, uma visão de dançarina.


          Nesta primeira imagem, ela tem um véu sobre a cabeça num semblante sereno. Observe a delicadeza das mãos. A mão que segura o véu possui uma linha arredondada. A blusa é de de uma seda muito delicada, com  um bolerinho de renda
sobreposto. Na parte superior, tecidos esvoaçantes. Nos quadris, um tecido pesado que deixa a silhueta arredondada e bem marcada, com peso, porém sem definição. O ventre coberto com transparência e com tecidos soltos, leves, esvoaçantes. esta dançarina poderia estar dançando um música com uma base rítmica bem marcada, mas com um ou dois instrumentos melódicos suaves, como a flauta ou um alaúde. Interpretação bem feminina, um mistério delicadamente insinuado pelo véu.


Emile Vernet Lecomte - Paris 1821

          Pelo traje podemos notar que trata-se da cultura balkan.
          A ligação entre as danças balkans e a Dan
ça Oriental já vem sendo muito estudada e esse é o tema de outra postagem que estou preparando pro Blog.
          Mas vamos analisar a cena em si, a que situação nos remete. Eu particularmente gosto muito desses figurinos pelas sobreposições e possibilidades de composição.
          A dança balkan assim como as mulheres da Macedônia são de personalidade forte e vigorosa. No entanto nesta retratação notem que a modelo pousa com uma flor tentando simular uma certa fragilidade que se contrapõe totalmente a riqueza de cores do próprio figurino. é como se ela quisesse deixar subentendido que, por detrás de tanta exuberância, há sim uma fêmea que pode ser frágil e delicada em alguns momentos.
          Quando analisamos uma obra de Arte como esta, há inúmeras possibilidades basta deixar-se envolver.

Jacques Baugnies

          Pés descalços, sagats nas mãos, uma cena bastante musical de interação da dançarina e do músico, que toca um mizmar.
          Essa inclinação de cabeça me chama bastante a atenção. As dançarinas orientais são as únicas no mundo que conferem tanta languidez postural. Isso faz parte de uma entrega ao som melódico que a envolve neste momento.
          Não existem vídeos da dança nessa época. Essas obras de arte são nossa única conexão. Mas através delas temos acesso a um rico conteúdo de linguagem corporal e elementos cênicos.
           Notem a posição das pernas, dos joelhos e como os sagats estão na altura dos quadris como que emoldurando o movimento. esses detalhes são muito importantes.
          Outra coisa que me chama atenção é a posição dos pés mostrando nitidamente a transferência de peso ao destacar o quadril.
          Esta cena ficou viva e eternalizada pelo artista.



Fabio Fabbi

          O duff é um dos instrumentos mais retratados pelos artistas orientalistas. Mais até mesmo que os sagats ou véus o que nos leva a crer que era muito utilizado pelas dançarinas.
          Nesta imagem há muita leveza conferida pelos braços alados, pelo semblante contemplativo para o alto, e os pés delicadamente tocam o solo. É uma das poucas imagens da época em que a dançarina mostra um pouco do ventre, mesmo que da parte superior. Normalmente elas dançavam completamente cobertas. Notamos a presença do turbante que não tira a leveza do figurino talvez pela cor. Novamente ela contrapõe o tecido esvoaçante com o pesado lenço de quadril. A saia no entanto é bem rodada e a presença dos músicos na cena a tornam bem viva.






Felix Auguste Clement, An Evenings Entertainment
David Roberts- The Gawazee Of Cairo

          Eu gosto de comparar as duas artes seguintes. É bem óbvio que trata-se da mesma dupla.
          Na primeira cena, podemos notar vários músicos e instrumentos, como alaúde e nay e uma mulher tocando duff. As dançarinas tocam delicados sagats e interagem. As calças fofas conferem peso ao quadril em contraposição às delgadas cinturas. Utilizam sapatinhos.





          Já nesta segunda obra, vemos uma mulher tocando o duff
e dois músicos tocando rababas. Novamente elas tocam sagats, interagem e vemos na dançarina da esquerda a utilização de um vestido que lembra muito os vestidos das dançarinas persas e nos levam a crer numa evolução até o que conhecemos pelas galabyas gawazee.


          Este post está em construção. Escolhi inicialmente imagens que retratam a dança de maneira mais dinâmica. Mas há tantas imagens lindas que merecem ser citadas que deixarei o post em aberto e vou construindo aos poucos, vou me permitir não me despedir deste tema pois o considero de suma importância para todas as pesquisadoras da Arte e da Dança.


...em construção...


Um comentário:

  1. Oi, Yasmine

    A arte orientalista é esplêndida pois as imagens são ricas em detalhes e em cores.

    Mas vale lembrar que a arte orientalista foi retratada por europeus e muito do ambiente e das próprias modelos foram modificadas a fim de agradar o público europeu, comprador dos quadros. As próprias modelos são retratadas como pessoas brancas!

    Logo, é preciso cuidado na interpretação, o que não nos impede de vê-las como inspiração, pois elas são mesmo!

    Sucesso!

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