segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A História da Dança Oriental a partir das GRANDES ESTRELAS do Egito





Shafiq La Copta

Shafiqah al-Qutubiah (ou el Koptiyva), nasceu em 1851, no subúrbio de Shobra, no Cairo. Sua família era respeitável, conservadora e modesta e ficou escandalizada quando ela começou a pensar em dançar. Aos 19 anos de idade, foi descoberta por Shooq e fugia para aprender a dançar, enquanto sua família pensava que ela estava na igreja. Era estudante da primeira dança oriental egípcia de Shooq. Seus pais morreram quando ela ainda era jovem. Depois que se casou, ela viveu sob circunstâncias pobres e tentando melhorar dançando nos clubes. Com a morte de Shooq, Shafiqa se tornou desde a maior bailarina até a mais rica e famosa do Egito.Shafiqa Al-Qibtiyya já era uma lenda na era de 1920. Era extremamente bela e inteligente e ganhou fama por dançar na boite "El Dorado". Shafie'a Qebtiyya ficou conhecida pelas suas inovações, como dançar com candelabros na sua cabeça ou equilibrar uma bandeja de bebidas no seu corpo. Entre seus admiradores havia muitos ministros e outras pessoas influentes. Este período marcou o começo da era de bailarinas famosas no Egito. Bailarinas de sucesso como Shafiqa Al-Qibtiyya começaram a abrir seu próprio salah (clubes). Shafiqa era proprietária do "Alf Leya" ou "1001 Noites" clube. Tornou-se extremamente rica e dançou com sapatos de ouro, mas seu sucesso não só trouxe seu dinheiro, como ela gastava muito, tornou-se viciada em cocaína e morreu desamparada em 1926.O traje de dança de Shafiqa não era como o das bailarinas mais famosas que 30 anos mais tarde aparecem em cena.



Badia Masabni 

Nascida em 1893, Badia é considerada a avó da dança oriental, nasceu no Líbano e estabeleceu-se no Egito. Abriu o primeiro lugar de música egípcia tornando-se proprietária do "Cassino Ópera", em 1926. Este era o nome oficial do cassino, mas também era conhecido como "Cassino da Badía" ou "Cabaré da Madame Badía". O cassino incluía comediantes, cantores e bailarinas. Ela apresentava suas danças e lá estiveram atuando grandes estrelas, entre elas Taheya Carioca, Nayma Akef e Samia Gamal. Trabalhava com uma equipe completa composta de músicos, tais como Farid El Atrashe e Mohamed Abdul Wahab. Este cassino foi freqüentado por intelectuais egípcios e pela aristocracia nacional e estrangeira da época. Badía mudou o cenário da dança egípcia, criando um novo estilo de dança, usando coreógrafos ocidentais e sendo chamada agora de Raqs El Sharqi. Ela também introduziu um coral de 30 bailarinas. Adorava fazer relações públicas. Certa noite, Badía vendeu o cassino, obteve um passaporte falso e foi para sua terra natal, Líbano.Devia impostos ao governo egípcio. Morreu em Beirute em 1975 e o Egito todo a recorda com carinho. Com Badía formou-se toda a geração de bailarinas egípcias, como Sâmia Gamal e Tahia Carioca. Ambas treinadas por Badía, se tornariam as mais extraordinárias e famosas bailarinas da metade do século XX.


Taheya Karioka

Dançarina egípcia, Tahia Carioca dançou na maioria dos estados árabes e participou de alguns filmes egípcios com estrelas de filmes árabes como, o cantor e compositor Mohamed Ahdel Wahab e Farid Al Atrache. Tahia Carioca tornou-se uma das lendas da dança oriental. Mohamed Karim, seu pai, exerceu sobre ela duas influências: seu amor pela arte e em segundo seus vários casamentos. Seu pai casou 7 vezes e mais tarde, Tahia oficialmente dobrou o número de seu pai, casando-se 14 vezes. Ela foi chamada Carioca na ligação que teve com o samba brasileiro, na qual ela desenvolveu seu estilo no início da década de 30 quando se apresentou no casino de Badia Massabni. Ela se tornou fascinada pelo ritmo brasileiro e pediu ao seu músico que tocasse algo similar. Tahia trouxe para os seus shows os rítmos latinos. A concorrência no Cabaret de Badia era dura, especialmente contra Samia Gamal que também dançava lá no início de sua carreira. Foi uma das melhores bailarinas do Egito, extremamente audaz, recusou-se a dançar para o ditador turco Kamal Ataturk, o qual a proibiu de entrar na Turquia, também recusou-se a dançar para Nazli, rei do Egito. Durante a ultima guerra mundial, exerceu um importante papel, foi responsável por grandes ajudas e donativos. Na maioria das vezes, as apresentações de Carioca eram de 20 a 25 minutos. Mas a fama de Tahia foi rápida, entre 1930 e 1940, desta maneira, se estendeu até o Rei do Egito, Farouk, que a convidou para dançar no seu aniversário. Seu estilo era totalmente diferente de sua rival, Samia Gamal. O primeiro filme que Tahia fez foi "La Femme et le Pantin", lançado em 1935 e depois participou de mais de 120 filmes, como também, de teatro e novelas. Tahia era uma mulher determinada. Ela era uma grande dançarina! Ninguém conseguiu alcançar sua virtuosidade, seu jogo de palavras, gestos e seu jeito irônico de flertar. Ela deixou sua família em Ismaila depois de uma discussão com seu pai e aos 12 anos partiu de trem para o Cairo. Aos 31 anos já era considerada uma lenda da dança oriental! Tahia provou ser uma fonte de inspiração para toda uma nova geração de dançarinas. Quando abandonou a dança, fundou um grupo teatral, a primeira obra que apresentou foi a vida de Shafiqa La Copta, peça de teatro de quatro partes que obteve um grande êxito. Tahia faleceu no dia 20 de setembro de 1999, aos 79 anos de ataque cardíaco.

Nayma Akef


Nasceu em Tanta, no Egito, no dia 7 de outubro de 1932. Sua família era circense e possuía o Circo Akef. Eles viajavam muito fazendo turnês especialmente na Rússia. Em 1957 Naima apresentou sua dança num festival juvenil e ganhou primeiro lugar. No Teatro Bolshoi, há uma foto em sua homenagem. Naima foi descoberta primeiro pelo diretor Abbas Fawzy que lhe apresentou seu irmão Hessein Fawzy. Ele percebeu o talento dela e lhe deu papel principal na primeira vez em que Naima aparecia num filme. Ela teve muito sucesso como atriz, era consciente do seu peso, sua forma física, não poupava esforços nos ensaio. Dotada de grande técnica e estilo, suas coreografias encantaram o cinema egípcio com sua arte de canto, atuação e dança. Atuou em aproximadamente 30 filmes. Sua expressiva dança, teve origem nas atuações acrobáticas sobre cavalos. Foi seu pai quem percebeu seus dons, incentivou e reconheceu seus talentos. Freqüentemente criava suas coreografias mas ficou muito famosa por ser disciplinada e obediente aos seus treinadores. Raramente dançava em casas noturnas. Ela se apresentou algumas vezes no Cassino da Madame Badia Masabni. Após ter se separado de Hessein, ela se casou com seu contador e com ele teve um filho que começou mais tarde a trabalhar com música. Naima morreu de câncer em 23 de abril em 1996 com apenas 64 anos, após uma angustiante batalha. Sua musicalidade e interpretação dramática são imortais.



Samya Gamal

Declarado pelo rei Farouk como: "A dançarina nacional do Egito" em 1949, Samia Gamal é uma das mais famosas dançarinas do mundo. Nasceu em 1924 na pequena cidade egípcia de Wana, mudou-se para o Cairo depois de alguns meses nascida. Seu nome verdadeiro, Zainab, foi alterado por Badía Massabni, que a convidou para se juntar à sua companhia da dança. Como solista Samia desenvolveu um estilo improvisado que incorporou técnicas do ballet e danças latinas. Seu romance com o ator e cantor Farid al Atrache alegrou seus fãs, que viram o casal junto em filmes, como "I Love You" em 1949 e "Afrita Hanem" em 1950. Dançou até quase o fim de sua vida. Ela tinha 60 anos e ainda se apresentava em nightclubs parando completamente em 1984. Mais uma vez retornou aos palcos ouvindo os conselhos de um velho amigo, Samir Sabri. As pessoas eram maldosas com ela em cena e soltavam comentários ferinos enquanto ela se apresentava mas nada detinha aquela mulher. Tentavam atingi-la em sua auto-estima e ela continuava dançando.
"Dança, dança, nada além da dança. Eu dançarei até morrer!"


Soheir Zaki
Texto original, de Francesca Sullivan: Cairo Times

Anwar Sadat, uma vez, a chamou de "the Om Kulthoum da dança." "Da mesma forma que ela canta com a voz, você canta com o corpo", ele lhe disse. O presidente estadunidense Nixon a chamou de "Zagharit," quando soube que essa palavra é uma expressão de alegria. Ela recebeu elogios e medalhas do xá do Irã, do presidente da Tunísia e de Gamal Abdel Nasser. Uma pergunta: o que acontece com uma estrela depois de fazer seu último agradecimento à platéia, pendurar sua roupa pela última vez e fechar suas portas ao público? Após uma vida inteira de dança, sob o olhar do público, recebendo o carinho e amor de uma devotada audiência, ir para casa deve ser entediante.Suhair Zaki mora a alguns passos de um dos cabarés que iluminava a rua das Pirâmides em seus dias de glória, quando nela se enfileiravam ricas casas - a maioria, agora, demolida para dar lugar a quarteirões de apartamentos - e o público dos bares noturnos ainda era a nata da sociedade egípcia. Quando Suheir estava em seu auge, os cabarés da Rua Haram cresciam em número para satisfazer os ricos clientes que vinham dos países árabes. Agora as luzes se atenuam, muitos desses lugares já não existem, substituídos por supermercados e cybercafes.A apenas um quarteirão de distância da rua principal, o bairro não é mais que decadência. Mas entrando no apartamento de Suheir, ainda vemos grandiosidade: a sala de estar ostenta candelabros cintilantes e tapeçarias, iluminada lindamente como um set de cinema. Perfeitamente pontual para nossa visita, Suheir chega andando suavemente, vestida com um elegante terninho laranja e brilhantes jóias de turquesa. O cabelo bem arrumado, a maquiagem fresca. Pareço ouvi-la dizer "I’m ready for my close-up now, Mr. DeMille", só faltaria a escadaria. Mas ao invés disso, ela caminha com firmeza pela sala, segura de onde ficar ou sentar-se em frente à câmera. Quando comento isto ela sorri: "Não se esqueça que meu marido era câmera. Foi em um filme que nos encontramos", e posa para as fotos com toda a naturalidade. Mas espere... Se estamos interessados na vida de uma lenda, talvez seja melhor começar do início. Suheir Zeki nasceu em Mansoura, onde ela e sua família viveram até seus nove anos, quando se mudaram para Alexandria. Música e dança não eram o forte da família: seu pai trabalhava no ramo de construção civil e sua mãe era enfermeira. Mas Suheir se apaixonou por ambos desde pequena e aprendeu sozinha a dançar, ouvindo o rádio. Seu talento natural se revelou cedo e ela era notada nas festas de aniversário e casamento de seus amigos e parentes. "Eu ia direto da escola para o cinema, assistir a Tahia Carioca e a Samia Gamal na telona. Até cortei meu cabelo imitando a Fairuz", ela conta, se referindo à pequena atriz de cinema do cinema egípcio antigo. O desejo de Suheir de dançar em público superou a desaprovação de seu pai, mas talvez fosse parte de seu destino, já que seu pai morreu quando ela era ainda bem nova, e sua mãe casou-se de novo. Foi seu padrasto que deu um empurrão em sua carreira, arrumando sua orquestra e se tornando seu empresário. "A melhor época de minha vida, quando olho para trás, foi nesses dias quando comecei a dançar em Alexandria. Eu estava desabrochando, tornando-me mulher, sentindo as mudanças no meu corpo, e no entanto não tinha preocupações e responsabilidades. Sempre tive, na minha carreira, alguém para cuidar da parte dos negócios, alguém dentro da família, que levava no coração os meus interesses e os de minha mãe". Ela trabalhou regularmente nos bares de Alexandria, onde a audiência era heterogênia, com muitas pessoas da comunidade grega que dominava a cena dos bares naquela época. Fama e fortuna chegaram quando, em 1962, uma festa de celebridades em Alexandria foi transmitida em rede nacional, e a jovem Suheir apareceu ao lado de outros artistas locais. Ela foi notada pelo diretor de TV Mohammed Salem, que foi então em busca da "garota de cabelos longos". "Eu era a única dançarina daquele tempo que não usava peruca nem muita maquiagem. Ele queria me transformar em apresentadora de TV, e eu fui à audição, mas não me saí bem. Minha voz não era boa, e, além disso, eu só queria dançar." Mas Suheir foi para o Cairo, onde se apresentava em casamentos e bares até altas horas da madrugada. Sua fracassada audição para apresentadora acabou sendo apenas o começo de sua carreira na televisão. "Haviam programas de TV semanais com apresentações de dança, como o On The Banks Of The Nile, Adwa’ Al Medina e Zoom. Eu era dançarina solo regular e também dançava o tableaux do coreógrafo Ibrahim Akef," ela diz. Akef, primo da dançarina e atriz Naima Akef e coreógrafo das melhores dançarinas das décadas passadas, ainda hoje leciona. "Ele ensaiaria as dançarinas do grupo; e eu viria na útlima cena. Eles costumavam dizer sobre mim, 'Suheir ouve a música uma vez, e dança sem ensaiar."Seu preciso ouvido para a música era famoso. "Em toda minha carreira, nunca levantei a voz para um membro da orquestra. Se alguém tocava uma nota errada, eu sabia quem era mesmo se tivesse de costas para ele. Depois, eu o chamava num canto e lembrava exatamente em que parte da música ele tinha errado. Os músicos sempre respeitaram isso."Embora a televisão tenha ajudado a fazer o nome de Suheir, foram as apresentações nos bares e casamentos que a sustentavam financeiramente. As dançarinas daquela época eram as estrelas dos cabarés, ao contrário de agora, quando os cantores se destacam."O primeiro bar em que dancei foi o Auberge, na Rua Haram. Minhas contemporâneas eram Ne’met Mokhtar e Zeinat Olwi, e na geração seguinte tínhamos Nagwa Fouad, Nahed Sabri e Zizi Mustafa. Fifi Abdou dançava um pouco abaixo na rua, no Arizona." Apesar de haver muito trabalho, a competição era acirrada, as dançarinas tentando superar umas às outras no tamanho da orquestra, na riqueza das roupas e assim por diante.Minha maior rival era a Nagwa Fouad - competíamos ferozmente. Se íamos dançar no mesmo lugar na mesma noite, corríamos para vestir-nos e levar a orquestra ao palco antes da outra. Enquanto Nagwa adorava flashes e empompava tanto suas performances que elas pareciam shows de Las Vegas, Suheir era o extremo oposto.

Raqia Hassam, renomada professora e coreógrafa que levou Suheir ao Oriental Dance Festival, reafirma sua popularidade:"Suheir Zaki sintetiza a dançarina 'natural'. Saltava aos olhos sua simplicidade: ela traduzia a música com precisão e naturalidade, sem excessos e extravagâncias. Seus passos têm impressão duradoura e até hoje são ensinados. Ela sempre foi ela mesma em frente ao público - nunca representou. Tal qual você a vê, frente a frente, agora: calma, falando macio e educada, assim era ela em cima de um palco."
A imagem clichê da dançarina oriental - sensual, sedutora e impetuosa - entra em conflito com essa descrição. E, talvez por isso, explica por que Suheir Zaki manteve-se no controverso mundo da dança com sua reputação praticamente intacta. Ela orgulha-se de dizer que dançou nos casamentos das filhas de Gamal Abdel Nasser e Anwar Sadat; que foi constantemente escolhida para entreter os visitantes ilustres, desde o ministro da defesa russo até o presidente estadunidense, e que, quando se tornou a primeira dançarina que ousou interpretar as reverenciadas músicas de Umm Kulthoum no palco de um bar, contou com a aprovação da própria cantora.
"Numa noite, estávamos indo de um show para outro quando Inta Omri, de Umm Kulthoum, tocou no rádio. Eu disse que seria lindo dançar aquela música. Seu ritmo, sua melodia complexa, me fazem querer levantar e dançar. Apesar de fervorosas objeções, bati o pé fui em frente. Aconteceu do Mohammed Hassanein Heikal, que comandava o Al Ahram, estava na platéia naquela noite, e ele escreveu sobre isso no jornal. Logo fomos chamados para apresentar-nos em uma festa de elite em uma casa no Zamalek," lembra Suheir. "Assim qie começamos a tocar uma música da Umm Kulthoum, me deparo com essa senhora em pessoa entre o público! Eu e os músicos gelamos, rezamos para vir um terremoto e a terra nos engolir. Mas quando acabou o show, Umm Kulthoum veio até nós e nos parabenizou! Disse que tínhamos sido maravilhosos e que estava encantada com a banda, que tinha tocado a música tão bem, música que ela mesma tinha cantado algumas semanas antes, precisando de muitos ensaios com a orquestra. Foi o maior elogio que eu jamais poderia receber. Depois disso, fiquei famosa por dançar as músicas dela na televisão, e foi isso que realmente espalhou minha fama pelo mundo árabe."
É claro que o cinema também ajudou. Suheir fez mais de 100 filmes ao longo de sua carreira, ao lado de estrelas das telas como Farid Shawqi, Shokoukou e Shadiya. Ao contrário de dançarinas anteriores como Tahia Carioca, Naima Akef e Samia Gamal, ela nunca gostou muito de atuar. Seus papéis eram geralmente pequenos; ela ia para dançar. Mas ela garante, "se pusessem minha foto no pôster do filme, atraíam multidões." Ela encontrou seu marido, Mohammed Amara, em um set de cinema. Foi um casamento feliz, já que ele era de uma família acostumada às pressões do mundo artístico. O sogro dela, Ibrahim Amara, é tido como responsável por levar Abdel Halim Hafez para as telas em seu primeiro filme, Lahn Al Wafa’ (Canção da Sinceridade), e o tio do marido dela era o renomado diretor Hassan Al Seifi.
"Meu marido, por ser artista também, me compreendeu. Tínhamos muito em comum." No entanto, a vida de casados tinha que se espremer entre seus compromissos com os bares, TV e cinema, e custaram muito a conseguir formar uma família.
"Engravidei várias vezes, mas sempre sofria aborto, talvez por causa das pressões do trabalho. Só consegui ter um filho quando já começava a ficar tarde demais. E isso o torna ainda mais importante para mim." Como se tivéssemos combinado, o filho de Suheir, Hamada, entra no quarto. Ele tem quinze anos, e está estudando muito para as provas. "Para o ano, inshallah, ele irá para a faculdade nos Estados Unidos", diz Suheir. No final dos anos 80, o cenário da dança começou a mudar, e Suheir, vendo o andar da carruagem, começou a pensar em despedir-se dignamente. Grandes mudanças já se faziam na maneira que a sociedade via a dança. "Um dos dias mais tristes da minha vida foi quando a dança foi tirada da televisão. Foi Deus que me deu a fama, mas foi a televisão que me levou às casas das pessoas. Lembro de ouvir o anúncio, no rádio, das celebrações de aniversário da televisão, e não haveria dançarinas. Eu tinha participado daquele evento todos os anos, desde que começou. Chorei muito." Houveram outras razões, também, para que Suheir decidisse se aposentar. O visual das dançarinas estava mudando. Veja as roupas, por exemplo. No meu tempo, usávamos volumosas saias de chiffon e parecíamos princesas. De repente, tudo virou lycra. Quando você gira, a lycra não se move com você, ela gruda. Ser dançarina não é mostrar seu corpo e posar num palco. É mostrar a arte de dançar. Eu nem olhava direto para alguém da audiência antes de acabar o show e agradecer." Apesar dessa afirmação, filmagens antigas de Suheir entregam que ela gostava de usar seus olhos tanto quanto seu corpo. E se você apontar a câmera em sua direção, ela mira a lente com um olhar penetrante e carismático.
O fluxo de dançarinas estrangeiras para o mercado - que só começou quando Suheir deixou a cena, também não a impressionou. "Às vezes parece ter uma invasão das russas. Se eu fosse um empresário egípcio levando clientes para um bar, por que pagaria uma nota alta para assistir uma estrangeira dançar? Na abertura do festival do ano passado, vi algumas estrangeiras dançando no palco. Fiquei impressionada vendo a música fazendo uma coisa e elas fazendo outra completamente diferente!"
Sair pela cidade é coisa rara dela fazer agora, ela diz. Fica em casa, cuidando da família e os poucos amigos íntimos. O que nos traz de volta a questão inicial. Como é virar as costas a algo que você amou por tanto tempo?
"Da primeira vez que larguei a dança e resolvi aposentar, fiquei deprimida muito tempo, e pesava mais de oitenta quilos. Meu marido estava preocupado e me levou ao médico - o marido da atriz Hind Rostum. Ele me olhou e disse, 'É simples: você sente saudades da vida que tinha, assim como Hind. Você era festejada e adorada, e agora ninguém está te vendo.'", diz Suheir. "Ele me preparou uma dieta, e eu comecei a exercitar-me. Vou ao clube regularmente, caminho, e como bem pouco. Meu maior conselho, se você quer parecer jovem: durma o máximo que puder. Eu durmo pelo menos 9 horas por noite."
Quando foi convidada para participar do festival por Raqia Hassam, Suheir relutou em aceitar. "Mas fui persuadida por colegas, que disseram que seria bom para mim e para a dança." Raqia ficou impressionada pelo impacto que a presença de Suheir causou nos agendamentos. "Só quando a agenda começou a lotar que eu pude compreender o quão adorada a Suheir é no mundo todo. Quase toda dançarina que veio ao festival fez a incrição para o workshop dela."
Talvez o evento tenha mostrado para Suheir o tamanho do impacto que sua carreira fez na dança. Ou isso é algo que ela já sabe mas prefere não valorizar demais. Como diz uma famosa canção de Umm Kulthoum, "Então você quer voltar aos velhos tempos? Tente pedir a eles que voltem como eram.""Aqueles dias nunca voltarão - a atmosfera, os convidados. Onde estão agora? A Dança Oriental foi minha vida.




Nagwa Fouad

Nascida em 1942, foi a bailarina mais famosa na 2a metade deste século. Seu começo artístico foi como secretária em uma empresa de organizações de festas e daí passou para o teatro e dança. Afastada de sua casa em Alexandria, sonhava em dançar no Cairo. Participou de muitos filmes com um êxito sem precedentes. Sua fama ultrapassou o mundo árabe e passou a representar o Egito em muitos festivais turísticos. Dentro de seus espetáculos, foi a pioneira a incorporar elementos originais e sofisticados, dando a Dança Oriental um teor muito mais adaptável no mundo Ocidental. Desta forma, viajou inúmeras vezes para a Europa, América do Norte e Ásia, onde participou dos grandes festivais. Nos Estados Unidos realizou várias apresentações dedicadas especialmente aos habitantes de origem árabe e fundou uma escola de dança oriental em New York. Seu grupo de dança reconheceu diversos elementos de origem folclórica tanto egípcios quanto de outros paises árabes. Em 1976, o compositor Mohammad Abdel Wahab escreveu uma música especialmente para ela, de nome Arba'tashar. Nesta dança, Nagwa diz ter podido combinar a dramaticidade de Tahía Carioca e as acrobacias de Naima Akef. Este foi seu primeiro grande sucesso responsável por seu reconhecimento. Após ele, foi obrigada a criar novas coreografias a cada três meses. Nagwa com seus movimentos de braços e sinuosidades do quadril reserva sempre um momento do show especial para a Camanja (violino). Foi também cantora e artista de cinema e teatro; e em 1922 quis interromper definitivamente sua carreira de dança, para consagrar-se no cinema, mas não conseguiu devido a inúmeros pedidos, alegando ser insubstituível. Cativou numerosos políticos, entre eles o estadista Richard Nixon, o egípcio Anwar el Sadat e também o presidente Carter e Henry Kissinger.


Fifi Abdo


Com seus quase 60 anos, é atualmente a bailarina de maior sucesso no Egito, juntamente com Dina e a que paga um dos mais altos impostos. Dotada de um quadril incrivelmente potente, sua dança é forte e impressionante. Foi empregada doméstica de um músico que descobriu seu talento e iniciou sua carreira. A Rainha da Dança do Ventre diz não ter rivais, pois para ela, uma moça que balança os quadris não significa que é uma dançarina. Mas todos sabem que, assim como Tahia Carioca era rival de Samya Gamal e Nagwa Fouad era rival de Souhair Zaki, Fifi Abdo tinha Lucy como sua rival da época. Fifi faz doações para aproximadamente 30 famílias carentes, mas os islâmicos dizem que seu dinheiro é sujo e ilegal, que não deve servir de alimento para ninguém. Ela contesta que seu dinheiro é bonito, porque e ganho graças a seu árduo trabalho. Que no meio do inverno, ela dança descalça, sobre um chão frio, enquanto mulheres de alta sociedade, vestidas em pele, assistem-na na platéia. Sua personalidade é rebelde. Fifi Abdo, sem dúvidas, causa inveja a qualquer dançarina com seu estonteante shimmie (tremor dos quadris). Em sua orquestra, o alaúde toma frente, para atuar em combinação com seus shimmes.

Lucy

Da mesma época de Fifi Abdo e até considerada sua rival, foi uma dançarina extraordinária e reconhecida por seus movimentos rigorosos, bonitos e controlados e uma simpatia sem igual. Quando pequena, praticava ballet clássico, mas diz que se recorda pouco dessa fase. Inspirada em Tahia Carioca e Samia Gamal começou a atuar como atriz, mas em suas atuações. Lucy misturava passos de dança e muitos perguntavam se era uma atriz ou uma dançarina. Ela respondia que esta era uma pergunta errada, e dizia que havia algo dentro dela, que não podia ser separado. "A arte é uma totalidade, e não pode ser dividida. O artista, o ator principalmente, deve ser competente em cantar, não o tarab, que e completamente diferente, mas em cantar em ritmo, em movimento... e em dançar, se isto requerer dele", dizia Lucy. "Dançar é minha prioridade. É o que eu nasci fazendo, e logo a dança mais refinada, que e o ballet. Dançar tem que vir primeiramente, depois atuar e então cantar. Eu amo todos os três, me amo em todos os três e graças a Deus, me realizo em todos o três". Lucy foi considerada uma alma nova em Alexandria. "A Dançarina de Dança do Ventre e Atriz de Cinema". Foi reconhecida por vários papeis importantes no cinema, e deu aulas de dança nos Estados Unidos. Lucy, hoje, dona do Cabaret Parisiana, continua com a mesma simpatia e sorriso encantando seu público eternamente.

Mona El Said

Mona Ibrahim Wafa nasceu em 1954. Descendente de africanos, muito simplista. Começou a dançar profissionalmente aos 13 anos. Sua dança significou uma fuga do Egito para Líbano em 1970, para escapar da raiva de seu pai beduíno e conservador. Quando retornou ao Cairo em 1975, já era uma estrela. Sua dança é caracterizada por uma intensidade e nuance. No entanto, tem momentos em que ela pára de dançar durante alguns períodos. Estes aparentemente coincidem com algum fato de sua vida particular. Mona sempre esteve dividida entre Londres e Cairo. Em seu repertório, músicas clássicas e uso de flautas eram imprescindíveis. As performances de Mona Said vinham sempre acompanhadas de uma grande orquestra, assim como todas as grandes dançarinas da época, Nagwa Fouad, Lucy, Fifi Abdo, Dina, etc.No Egito é comum que as dançarinas empreguem os músicos; e Mona Said dizia que havia contratado os mais sofisticados músicos daquela época. Mona dançava mais em Londres, que no próprio Cairo. Seu estilo único fez de Mona uma das grandes estrelas da dança do ventre do século 20. Deu centenas de workshops nos Estados Unidos e em vários outros paises. Seu estilo hoje está bem diferente dos exageros de outrora.



Azza Sharif

Esta bailarina iniciou seus estudos em dança ainda na infância, e aos 18 anos já era bailarina profissional nos Hotéis egípcios Sahara City e Hilton Al Nile, com ajuda de sua amiga, a bailarina Nahid Sabry. Mas ela não podia dançar no Egito, sua terra natal, porque para dançar profissionalmente a idade mínima permitida era 20 anos. Então ela viajou para dançar emvários países, como Alemanha, Inglaterra e para Beirute, Líbano, até completar 20 anos, quando retornou ao Egito fechando contrato com Mena House e dançando emeventos com Abdel Halim Hafez, Yousry Wahbi. Om Kaltoum falou sobre Azza: “Seu corpoé perfeito para a Dança Oriental.” Ela é uma das dançarinas mais amadas no Egito. Foi na década de 70 que Azza começou a dançar no cinema, tendo feito cerca de 21 filmes. Antes da guerra civil no Líbano, dançou em várias casas em Beirute. Casou-se em 1970 com o cantor Katcout El Amir, conhecido como Cat, mas atualmente, estão divorciados.

Nádia Gamal

Nasceu em Alexandria, em 1937.. Responsável pelo surgimento da primeira escola de Dança do Ventre em Beirute. Sua dança era sofisticada e parecia reunir muitos estilos que forneciam a força de sua identidade. Nadia possui uma dramaticidade, que combinava perfeitamente com performances de dança com teatro. Chegou a trabalhar durante muito tempo com o tablista Setrak, formando uma dupla de coesão explicita. Por duas vezes esteve nos Estados Unidos, ministrando cursos. Sempre será símbolo da perfeita interpretação da música. Faleceu em 1990 de câncer.

Farida Fahmy

Farida é uma bailarina egícpia que, ao lado de Mahmoud Reda, mudou a imagem da dança egípcia  até então  ligada o estilo de dança do ventre de Hollywood. Em uma entrevista em 1995, Farida declarou que o amor da vida dela era e é “raks chaabi, a dança folclórica”.Raks chaabi voltou às raízes egípcias, a cultura popular e folclórica.  Co-fundadora e principal bailarina do Reda Troupe, criada pelo coreógrafo Mahmoud Reda que dirigia suas forças para a renovação da dança egípcia, tornando-se ele próprio um compositor, coreógrafo e dançarino ao mesmo tempo. A Companhia de Mahmoud Reda é financiada pelo governo Egípcio na medida em que é encarada como representante do folclore egipcio. O grupo viaja por todo o Egito investigando e analizado as danças folclóricas e depois organiza tournées mundiais para promover essas danças como uma forma de Arte, digna de respeito. O trabalho do Reda influenciou e moldou o que hoje é conhecido por Dança Oriental e muitos dos grandes nomes ligados à dança oriental, tais como Raqia Hassan, Momo Kadous, Mo Geddawi and Yosry Sherif. Atualmente, Farida viaja o mundo todo ministrando workshops e ensinando ao mundo a mais autêntica dança egipcia. Farida dançou aos 17 anos no musical “Ya Leil Ya Ein”, patrocinado pelo estado egípcio. Zakaria Abdul Rahaman Al-Heggawi fora o autor da opereta, primeiramente apresentada no palco da Casa de Óperas. “Ya Leil Ya Ein” é considerada a primeira peça folclórica que destacou a trupe de Reda para o público geral. Suas irmãs mais velhas eram casadas com Mahmoud Reda.


Dina

Não é somente a marca registrada da dança do ventre atual, mas é uma das mais talentosas e também altamente educada e simpática. Durante sua carreira dançando, fez dois diplomas de filosofia, que são iguais a um grau de mestre. Estudava durante o dia, enquanto dançava a noite. Dina começou sua carreira dançando juntando os grupos de folclore de Mahmoud Reda. Começou a dançar sozinha em Dubai. Isto deu logo aquela senhorita o poder de fechar contratos com os hotéis Sheraton e Marriot no Cairo. Dina vê a dança como uma arte física, que combina a aptidão e movimentos elegantes de dança. "Embora muitos estrangeiros estejam executando a dança do ventre no Egito, não são considerados bons interpretes da musica árabe", diz Dina. "No Brasil, você encontra bailarinas que dançam muito bem. Se eu quiser tentar dançar como uma menina brasileira, o resultado vai ser muito diferente, porque eu ouço a musica diferentemente".Dina com seus olhos verdes, cabelo longo preto, figura perfeita e movimentos graciosos do corpo que revelam um talento admirável, está no coração dos árabes e estrangeiros. Dina dedicou uma parte grande do seu tempo, para dar oportunidades educacionais e de performances para aquelas interessadas na arte da dança do ventre egípcia e de promover esta arte ao publico geral patrocinando seminários, workshops e eventos, a que esteja disponível ao redor do mundo. Dina foi à Arábia Saudita para submeter-se ao quinto pilar do Islam, Hajj, e em seu retorno do Hajj, ela anunciou que estaria se aposentando do mundo da dança completamente. Disse que estaria devotando sua vida à Deus. Entretanto, o amor de Dina pela dança era demasiadamente grande, e assim ela anunciou que em qualquer hora estaria voltando a dançar. Aparentemente também tem ofertas dos produtores egípcios para estrelar vários filmes. Dina não conseguiu se separar da dança. Continua sendo contratada para shows e workshops em vários países. Atualmente é a bailarina mais bem paga do mundo e considerada, merecidamente, a top da dança do ventre mundial.




Randa Kamel


Randa Kamel comecou sua carreira com 16 anos em Alexandria. Logo passou a estudar com Raqia Hassan e Ibrahim Akeff e tornou-se uma das melhores dancarinas do Egito. Desde jovem, dedicou-se a aprender Ballet Clássico e, antes de empreender carreira solo, dançou alguns anos com Reda Troupe. Hoje viaja todo o mundo dançando e ministrando workshops. Ela é uma das professoras mais cotadas do Famoso Anual Ahan Wa Sahlan Festival no Cairo, além de muitos outros como no Brasil e Sweden. Possui um estilo delicado e elegante. Ela tem o poder de fazer a audiência chorar em emoção quando sintoniza perfeitamente movimentos e música. Randa é sem dúvidas, atualmente, o grande expoente da dança no Egito e mesmo com curto tempo de carreira em comparação à demais estrelas aqui citadas, merece, sem dúvidas, estar entre elas!
Em entrevista à bailarina Yasmina no Cairo, Randa revelou que aprecia muito estudar os vídeos de Soheir Zaki, referindo-se ao seu quadril , Mona Said , estuda os braços desta bailarina e Nagwa Fouad pela utilização do espaço cênico alem de inspirar-se também na presença de palco de Fifi Abdo. Com relação a músicos, ela aprecia dançar as músicas de Om Kaltoum, Abdel Halim Hafez e Farid El Atrash.Randa declarou ainda que dar aulas lhe proporciona grande realização pessoal e dar aulas tem possibilitado a essa grande bailarina conhecer a dança nomundo todo e semear a essência da verdadeira Dança Oriental por todos os continentes realmente é algo muito especial.